quarta-feira, 27 de abril de 2011

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E falando em peripécias da língua...

Estava eu a ler um livro na varanda da casa da minha avó, interior do Rio Grande do Sul, quando ouvi gritos. Corri para ver o que era, mas não via ninguém, porém os gritos continuavam:

- Pega o mamão!

- Depressa!!! Corre!!!

- Se ele enroscar vai “saí” rolando!

- Vai pelo outro lado que eu e o Joca vamo prá “manguera”. A vaca ta indo prá lá.

E eu cada vez mais intrigada, bem que eu tinha visto um pé de mamão nos fundos da casa, mas o que o mamão rolando tinha a ver com o pé de manga que ficava do outro lado da estância? Será que a vaca tava comendo as mangas? Mas de medo de parecer intrometida não quis perguntar nada a ninguém.

No dia seguinte, durante o café da manhã, os primos conversavam.

- Foi duro pegar o mamão ontem né?

- É, foi. Se não fosse o Joca “consegui agarrá” a vaca Mimosa, “prendê na manguera e dexá” longe dele, tinha mamado todo o leite outra vez!

- Eta, ternerinho danado, esse.

Baixei minha cabeça e ri baixinho. Compreendi enfim, caiu a ficha como se diz hoje em dia. Eu estava no interior do Rio Grande do Sul. Nessa região é chamado de mamão, o bezerro que toma muito leite e não desgruda da vaca para nada. Mas mesmo com vergonha, resolvi perguntar se a vaca tinha estragado muito o pé de manga. Os primos caíram na risada e eu ali sem entender nada. Depois que as gargalhadas foram diminuindo eles me explicaram que a tal da mangueira era o estábulo. Vê se pode? Imaginem se eu pergunto sobre o pé de mamão.

2 comentários:

  1. Tere,
    Muito legal essa história, exemplifica as diferenças culturais interferindo na linguagem, na significação das palavras.
    Amei!!!

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  2. Grupo, ambas histórias contadas estão ótimas! A dos docinhos então é muito boa!

    Adorei,
    Abraços

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